15 de agosto de 2011

O último suspiro do velho Encanto


I

Não deve ser um dia qualquer para eu parar para refletir, olhar para qualquer canto e sentir, imaginar e passar por mim aquilo que eu sequer poderia saber que existe. Não se pensa, só se faz. E com um adeus tudo é nada mais. E voltamos tudo ao ponto onde nunca deveria ter saído. A ponto de não sabermos mais onde é esse ponto.

Olhei para trás e perguntei:

- Aonde estava você, velho? Aonde eu estava?

Se é que eu já estive...

Não importava muito, pra falar a verdade. É tanto tempo, é tanto desabafo, só queria saber como é possível se calar por noites e dias quando o que você mais quer é se expressar; Como é possível estar na frente de alguém que se ama e não se declarar? E viver... com aquilo engasgado, coração apertado, existir e resistir sem necessariamente respirar... aquele sentimento que nomeamos por pura falta de conduta, pois no fundo não sabemos o que é. E temos a incrível mania de querer dar nomes para aquilo que desconhecemos.

- Para onde vamos agora? – perguntei.

Se é que isso é importante, não quero resposta. Qual é a graça de viver e já saber o enredo? De estar feliz e estar sem medo. Pára com isso. Tudo isso vai te libertar... de correntes que são feitas pra não te acorrentar. Se é que existe verdade, tentem pensar em alguma e então torná-las mais verdades do que apenas pensamentos.


II


Quem tem medo

Costuma fugir

Quem tem vontade

Costuma agir.


Quem tem solidão

Costuma ficar

Quem tem paixão

Só pensa em amar.


Não sei ao certo mais nada

E tudo que sei é o que quero

E quero não querer mais nada

Viver sem ter que ir pra estrada.


Não quero lutar ou correr

Não quero viver e morrer

Só queria uma fonte

Que me desse água ou café

Amor, poesia e uns trocados.


E talvez algumas perguntas

Para que eu pudesse formular

Suas respostas, mesmo sem querer

Saber alguma coisa responder.


Só não peço tranqüilidade

Mais fácil eu querer milagre

Que é mais difícil que acreditar

Em Deus, em mim e em você.

Milagres não são palpáveis.

Apenas acontecem

Quando cismam em acontecer.


Estão acima de Deus

De mim e de você.

E estão prontos pra acontecer.


III


Você me abandonou, meu caro.

Você se foi e aqui me deixou.

Com mágoas, histórias e frio

Com cicatrizes, pontos e fios.

Abandonou a mim e todos mais.

Mostrou de que era capaz.

Suspirou e não voltou mais.


Senhor Encanto, encantado estou.

Senhor, que espanto, espantado vou.

Senhor, em nenhum canto quero estar ou sou.

Senhor, em prantos não consigo ou.


Jamais irei conseguir enquanto te esperar

Você se foi pra não mais voltar

Disse adeus, brincou até não poder mais

Disse adeus, e tirou toda minha paz.


Sinto saudade dela, Senhor.

Mas sei que fui um filho mau.

Sinto saudade dele, Senhor.

Mas o mundo o levou pro mal.


Quem sou eu? Sempre me pergunto.

Não respondo, sinto o golpe mudo.

Olho em volta. Corro em volta.

Estou em volta.

De um mundo que só sou eu.


E quanto a nós?

E quanto a todos nós?

Cadê a porra do encanto?

Cadê os contos de fadas

E os finais felizes?

Cadê as histórias lindas

Sem ser a com atrizes?


IV


Vida longa ao encanto morto, em caixão de madeira inflamável, relento dos que nunca irão voltar. Façamos nossa própria história, sem encanto, talvez com pranto, em baixo de um manto, até e entretanto... somos, podemos e vinguemos aqueles que não poderão lutar por nós.


V


E ela me disse:

"- Você só vai dar valor quando perder".

E eu te perdi.

E hoje eu dou valor.

Preferia não te perder.

E não saber o que significa

Essa merda de valor.