I
Não deve ser um dia qualquer para eu parar para refletir, olhar para qualquer canto e sentir, imaginar e passar por mim aquilo que eu sequer poderia saber que existe. Não se pensa, só se faz. E com um adeus tudo é nada mais. E voltamos tudo ao ponto onde nunca deveria ter saído. A ponto de não sabermos mais onde é esse ponto.
Olhei para trás e perguntei:
- Aonde estava você, velho? Aonde eu estava?
Se é que eu já estive...
Não importava muito, pra falar a verdade. É tanto tempo, é tanto desabafo, só queria saber como é possível se calar por noites e dias quando o que você mais quer é se expressar; Como é possível estar na frente de alguém que se ama e não se declarar? E viver... com aquilo engasgado, coração apertado, existir e resistir sem necessariamente respirar... aquele sentimento que nomeamos por pura falta de conduta, pois no fundo não sabemos o que é. E temos a incrível mania de querer dar nomes para aquilo que desconhecemos.
- Para onde vamos agora? – perguntei.
Se é que isso é importante, não quero resposta. Qual é a graça de viver e já saber o enredo? De estar feliz e estar sem medo. Pára com isso. Tudo isso vai te libertar... de correntes que são feitas pra não te acorrentar. Se é que existe verdade, tentem pensar em alguma e então torná-las mais verdades do que apenas pensamentos.
II
Quem tem medo
Costuma fugir
Quem tem vontade
Costuma agir.
Quem tem solidão
Costuma ficar
Quem tem paixão
Só pensa em amar.
Não sei ao certo mais nada
E tudo que sei é o que quero
E quero não querer mais nada
Viver sem ter que ir pra estrada.
Não quero lutar ou correr
Não quero viver e morrer
Só queria uma fonte
Que me desse água ou café
Amor, poesia e uns trocados.
E talvez algumas perguntas
Para que eu pudesse formular
Suas respostas, mesmo sem querer
Saber alguma coisa responder.
Só não peço tranqüilidade
Mais fácil eu querer milagre
Que é mais difícil que acreditar
Em Deus, em mim e em você.
Milagres não são palpáveis.
Apenas acontecem
Quando cismam em acontecer.
Estão acima de Deus
De mim e de você.
E estão prontos pra acontecer.
III
Você me abandonou, meu caro.
Você se foi e aqui me deixou.
Com mágoas, histórias e frio
Com cicatrizes, pontos e fios.
Abandonou a mim e todos mais.
Mostrou de que era capaz.
Suspirou e não voltou mais.
Senhor Encanto, encantado estou.
Senhor, que espanto, espantado vou.
Senhor, em nenhum canto quero estar ou sou.
Senhor, em prantos não consigo ou.
Jamais irei conseguir enquanto te esperar
Você se foi pra não mais voltar
Disse adeus, brincou até não poder mais
Disse adeus, e tirou toda minha paz.
Sinto saudade dela, Senhor.
Mas sei que fui um filho mau.
Sinto saudade dele, Senhor.
Mas o mundo o levou pro mal.
Quem sou eu? Sempre me pergunto.
Não respondo, sinto o golpe mudo.
Olho em volta. Corro em volta.
Estou em volta.
De um mundo que só sou eu.
E quanto a nós?
E quanto a todos nós?
Cadê a porra do encanto?
Cadê os contos de fadas
E os finais felizes?
Cadê as histórias lindas
Sem ser a com atrizes?
IV
Vida longa ao encanto morto, em caixão de madeira inflamável, relento dos que nunca irão voltar. Façamos nossa própria história, sem encanto, talvez com pranto, em baixo de um manto, até e entretanto... somos, podemos e vinguemos aqueles que não poderão lutar por nós.
V
E ela me disse:
"- Você só vai dar valor quando perder".
E eu te perdi.
E hoje eu dou valor.
Preferia não te perder.
E não saber o que significa
Essa merda de valor.
Você inspira a poesia.
ResponderExcluirAinda acho fantástico seu jeito simples de escrever. Não é arrogância, não é pompa. É o que você está querendo dizer e ponto.
ResponderExcluirLindo, como todos os textos que as as avalanches emocionais trazem. Um pouco redentor, consciente e levemente irritado. Um pouco questionador; talvez desacreditado.
Muito você, no geral.
E isso é sempre lindo.
:*
Muito bacana mesmo.
ResponderExcluirMas, assim... Nunca é tarde para dar valor. Mesmo que o tempo não volte, as coisas não mudem... Dar valor independe de poder - ou não - ter um retorno dessa ação.