2 de junho de 2013

Antes que seja tarde demais





I

Você não vive o amor da sua vida
Ao dizer que está vivendo
O amor da sua vida.
Você vive o amor da sua vida
Quando, de alguma forma,
Fora do seu entendimento
Você se percebe dentro
Do amor da sua vida.

Não há escapatória
Como um sonho
Você não tem ideia
De como tudo começou
Só se percebe dentro
E vive nele
Fazendo de tudo pra não acordar.

O amor da vida é uma flecha
Lançada no escuro e sem direção
Que acerta o alvo bem ao centro
Passando por medos e existências
Erros e inconsequências
Tem tudo pra não acontecer
Mas se acontece, sim
Era pra ser.

Me faço do amor da minha vida
Como único, primeiro e primordial
Me dou a chance de errar e de chorar
Me dou o presente de fazer o que quiser
De virar a noite como um criminoso
De brincar no escuro sem receio
De amar em qualquer hora e lugar
E se sou feliz como sou
Apesar de ser quem eu sou
É porque esse amor me liberta
Me transforma e me agracia
Como presente divino que me deixa
Ser quem eu quero ser.

Não consigo entender
O sonho, a realidade, a flecha
Sou um pouco de alma, amor e reza
Pedaço cósmico de vida do além
Mas hoje sem ela,
Sem seu amor e carinho
Eu sou ninguém.

II
Sinceramente,
O mundo não tem muito sentido
As pessoas não são tão importantes
A realidade é muito subjetiva
E a vida é um evento aleatório.

O momento mais importante da vida
É sem sombras de dúvidas A Morte
Que com muitas sombras de dúvidas
É o acontecimento mais aterrorizante
E indecifrável do mundo.

Tudo pode acontecer.
Existem mais possibilidades de Morte
Do que de vida.
E na vida você pode fazer de tudo
E tem plena consciência de vida
A omissão ou ação é mera opção
O ato ou destrato é algo inato
Ser ou não ser é só uma questão
Escolher e se mover é parte da ação.

Tenho medo de como pensarei
Segundos antes de minha Morte
Medo do vazio, da dúvida, da dor.
Mas meu maior medo é não mudar
A realidade que vejo e que ao abandoná-la
Não ter deixado ela melhor
Para outros pedaços de vida
Igual a mim
Que viverão e nunca saberão
O que virá depois.

Quero deixar um presente
Um presente decente
Que faça mais agradável
A realidade recente
Para o povo que é minha mente
E merece uma vida melhor.

Se não puder fazer isso,
Que Deus me de o direito de voltar
E consertar o que fui incapaz
Pois não dormirei em paz
Sem aquilo em minha volta eu não mudar.

III

Antes que seja tarde demais
Venho dizer que te amo
E amo muito.

Antes que seja tarde demais
Digo ao mundo que
Odeio muito de seus filhos
Mas amo muitos também
E que sou fraterno até com
Aqueles que ainda não conheço.

Antes que seja tarde demais
Digo que não me arrependo
De nada do que fiz
Das mentiras que contei
Dos erros que cometi
Das pessoas que feri
Pois sem isso
Não teria aprendido
O que aprendi.

Foi ferindo que fui ferido
E me curei.
Foi mentindo que encontrei
A verdade em mim.
Foi errando que aprendi
A errar mais
Para então, acertar.
E foi fazendo o que fiz que
Encontrei a vida.
E o amor.

Se não eu não agisse
Nada teria acontecido
E seria tarde demais
Para eu encontrar você.

E antes que seja tarde demais
Eu irei me redimir.
Eu irei dar meu melhor.
E serei pro mundo uma pessoa melhor
E serei pros meus amigos a pessoa mais verdadeira
E serei pro meu amor
O melhor amante possível.

Tudo isso, antes que seja tarde demais.


7 de agosto de 2012

Sem sombras



I – Espelho Plano

Você fica estático
E olha aquela pessoa
Confrontando seu olhar.

É só você e o tempo
E aquela pessoa
Confrontando seu olhar.

Você a odeia
Quer destruí-la
Admira seu olhar.

É seu maior inimigo
Princípio e fim
Odeia seu olhar.

Você não sabe quem é
Quer descobrir
É tão diferente
De como você gostaria.

É dona de seu mundo
É intocável e cruel
Desaparece quando
Você se vira.

Sorri quando não quer
Chora e fica horrorosa
É alguém que não se entende
É simples e medrosa.

É um mundo à parte
Naquele outro lado de lá
E aquela pessoa
Não chega perto
Do sonho mundano
De viver além d'um espelho plano.


II – Perfumes

Um dos meus maiores pontos fracos
É sentir um cheiro do passado.
Aquilo me transforma e modifica
Faz de mim fraco e paralisa
Não sei mais onde estou.

Momentos cotidianos banais
Caminhar pela rua
Passear por entre as pessoas
Existir mesmo sem querer.

Então vem aquela fragrância
De datas longínquas da minha história
Absorvendo-me todo meu presente
E minha relação com a realidade.

Sou puxado para determinado dia
Sou levado para algum momento
Sou confrontado com meus sentidos
Saio do meu corpo combalido
E viajo para o passado
Volto a ser criança
Dilacerado por uma viagem
Dimensional onírica balsâmica.

É muito esquisito.
É como se espaço e tempo
Simplesmente pulverizassem.
Eu sinto aquele cheiro
E não sinto mais meu corpo.
Volto para uma ocasião aleatória.
Em que aquele perfume me tocou.
E fico o sentindo.

Quero sorver aquele instante.
Sugar aquele segundo.
Consumir por completo aquela alma
Divina que me transporta
Para um lugar que não devia ter saído.


III – Hades

É insuportável viver sozinho.
É intragável ser humano
E estar junto de outros
Que temem ficar sozinhos
E ficam ao lado de outros
Por preenchimento existencial
Preenchimento de ego
Exaurimento de vivência.

Todos dizem que você precisa amar
Você deseja sentir precisar amar
Você sente que precisa amar
Mas isso não existe
Talvez o amor não exista
Você só precisa achar que ama
E precisa ser enganada que está sendo amada
Ou sua existência não tem sentido
E você não precisa mais viver.

Fim de história.
A invenção da necessidade de um amor
Falso, leviano e comprado no bar da esquina.
Você não quer amar
Só quer a sensação de amar
E que isso tudo é recíproco.
Se não amar não tem graça.
Você sofre, é uma coitada
Tudo é só dor e desgraça.

Todos no fundo desejam ser
O que não querem.
Desejam sentir
O que não podem.
Negando acreditar
Que a vida só foi feita
Pra morrer.


IV – Um dia

Eu serei tudo o que você precisa
Aquele que você irá desejar
E tornar como objeto de consumo.
Você vai me querer mais que o vinho
Ser minha e de mais ninguém
Ser abraçada e beijada como nunca foi.

Você vai planejar coisas
Idealizar momentos e momentos
Sorrir quando ninguém estiver sorrindo
Dormir com uma felicidade estranha
Acordar com o coração batendo forte
Sonhar com coisas profanas
E irá escrever coisas para mim.

E talvez você venha falar comigo
Falar desse amor
Falar de você
Falar de um possível nós.

E talvez eu apenas ria.
Ache tudo muito engraçado.
Pois nesse universo paralelo
Não exista alguém como eu
Que não tenha escrito nada
E não fique fazendo projeções
Tão imbecis quanto seus sonhos.

Um dia
Talvez.
Eu largue tudo.
Meus sonhos e vida.
E olhe para trás.
Só para ser mais um.
Talvez.
Um dia.


V – O peso do sol

Todos tentamos
Eu tento e não consigo.
Nós tentamos
Sabemos que é difícil.

O maior perigo ao se amar alguém
É se tornar responsável.
A vida se torna uma comédia romântica
Ou seria tragédia grega?
E o seu sistema solar
Gira em torno de não decepcionar.

Eclipses acontecem.
E você procura se achar em outro alguém.
É tudo uma questão corporal.
A necessidade de viver e ter prazer
Se encontrar mesmo estando perdido.

Você carrega diariamente o fardo
De ser alguém.
Mas como você pode ser alguém
Se você não sabe quem você é?

Você deixa essa pergunta pra depois
E continua a provocar o mundo
Com seu jeito irritante
Em constantes explosões plasmáticas.
Você está sempre expandindo.
Queimando sua vida a cada segundo que passa.
E o seu vazio fica cada vez maior.

Você e seu corpo.
Seu espírito e o peso de ser o sol
Que deseja brilhar
Enquanto tenta não explodir.



24 de julho de 2012

A leste de mim mesmo


I – A carta

Alguns dirão que a carta mais bonita é escrita pelo coração
Alguns dirão que a mais bonita será escrita com sangue
Alguns dirão que ela já foi escrita e está por aí
Outros dirão apenas que não.

A carta é um grito de saudade
De socorro, desespero, e amor
A carta é o urro de vontade, desejo, e torpor
A carta é cheia de pontos e verdade.

Lembro do envelope vermelho
Letras brilhosas, remetente distante
Destinatário menino fedelho
Alegre, bobo e um tanto inconstante.

E vieram outras, todas com sinceridade
Não foram muitas, é verdade
Mas não importa a quantidade que for
Não é por número que se mede amor.

Algumas existem. Outras não mais.
Umas leio quando dá vontade. Outras jamais.
Todas guardadas em seu canto de paz.

Se me recordo, vivo em dor imediata.
Fico sentado à espera da vinda dela.
Em aspiração de receber minha próxima carta.

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II – Anjos

As minhas preces não foram atendidas
Eu não consigo dormir
As minhas preces não foram atendidas
Eu continuo a existir.

Hipócrita em minhas vontades e letras
Sinto uma profunda dor no peito
Apenas ao pensar na morte
E no que pode acontecer após dela
Não aceito a escuridão
Não aceito deixar de viver.

Acredito que isso tudo não passa
De uma estado cognitivo insólito
Como um coma que a cada dia
Está mais próximo do seu fim
E quando acordarmos
Seremos quem quisermos
Enquanto pudermos.
Pois esse estado insólito voltará
Estaremos de volta nessa estrada
Em um sofrimento cíclico
Como uma verdade catatônica.

Os anjos não me protegem de mim mesmo
E me abandonaram por minha causa.
Eu briguei com um deles
Falei que iria abandoná-lo
Enquanto ele estiver obtendo prazer
Com outro homem sem ser a mim.

Aquele anjo que esteve ao meu lado
Por tantos anos
Com amor, carinho e sorriso
Anjo que chamei de melhor amigo
E com todas as forças do meu coração
Pude dizer que amei e ainda amo.

Anjo que eu rebaixei, debochei e abandonei
Anjo que me colocou debaixo das asas
Sem saber que eu não acreditava em nada
Nem em seu Deus, nem em mim
Apenas no amor que eu sentia ser verdadeiro.

Volta, meu anjo.
Pois eu já não sei onde eu estou.
E não sei se é tarde demais para eu voar
E voltar a te ter ao meu lado.

Volta, meu anjo.
Pois eu não sei mas quem eu sou
E não quero deixar de saber
Quem você é.
Pois quem ama cuida.
E quero você ao meu lado de novo.

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III – Sinfonia 5

Corre aos infernos com os ventos mais gélidos em suas costas
Corre para os corações demoníacos que irão te proteger
Ouça a flauta de medo que se aproxima
E baile aos violinos feitos de sonhadores.

Pare e respire, não esqueça que o trem já passou
É você e seu futuro e nada além disso
A realidade é apenas sua
Não deixe que ninguém diga que você não pode
Você sabe que não pode, prove a si mesmo isso.

A questão nunca foi de poder ou não
E sim de até quando a corda vai te segurar
E até quando o penhasco será penhasco
Solte a corda, seus pés encontrarão o chão
Acredite.

Os guerreiros desfilam com suas armas
E você é apenas mais uma sonhadora
E o medo te apavora. Mas não deixe.
O campo está cheio de flores.
Cheio de sangue e corpos deitados.

E esse silêncio é tão bonito.
É como se fosse o dia mais bonito de primavera
E só você pode viver esse sonho
Pois ele é seu.

Deite. Ouça. Tema. Sorria.
Cante aquela canção.
E agora corra.
Pois o fim está próximo.
E de final feliz nós já estamos cheios.

Os finais estão além de algo chamado felicidade.
Finais são linhas de limite.
Pense.
Não pare jamais.

E corra. Pois o túnel está distante de terminar.
Quando enxergar a luz.
Não admire.
Deixe seu corpo ser consumido.
E o fim ficará cada vez mais próximo.

Vença.
Quem?
Você mesmo.
Você
Eu
Deus
E quem você quiser.

Quem é você?
Você é quem?
Seja quem você quiser.

E não se esqueça.
É tudo um sonho.

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IV – Mais é menos

Deixo minhas antigas paixões de lado
Pessoas que estiveram abraçadas comigo
Existências que posso dizer que amei
E tudo isso valeu tanto a pena.

Mas hoje acabou.
Viraram sombras de um passado
Que só reencontro em memórias
Que tentam me magoar, mas não
Pessoas vem e vão.
Sementes e flores.

Eu plantei coisas boas
Colhi amores valiosos
Mas nada é para sempre
Até porque o nada não existe.

A verdade é que vou me despedindo
De antigas amizades
Estou cansado de ouvir tanto
De produzir tanta paixão e calor
E vontade de acolher as pessoas.

A fábrica de mim mesmo está fechando as portas
Mas só pra essas pessoas que já foram
Ainda sou o mesmo
O romântico utópico
Que gosta de cuidar seus amigos
E gosta de saber o que eles fizeram
As novidades, decepções e amores
Ambições, volições e temores.

Ainda sou o mesmo.
Só que mais reservado.
De escudo quebrado.
De cabelos a esmo.

Dou minha mão agora para poucos.
Joguei fora aquilo que me incomodava.
Amo mais.
Amo menos.
Pessoas.
Pessoas.

É só a existência que compartilhamos.
E se tenho uma missão
Espero que seja a de ajudar alguém.
Ouvir quando ninguém mais ouve.
Falar o que ninguém ousa falar.

E se é assim, eu fico feliz.
Sou fruto de minhas vontades.
E nada pode ser ruim enquanto
Eu escolher que será assim.

Agora eu escolho
Com coração
De propósito
E com gosto.

Se faz sentido ou não
Eu vou descobrir.
Sinto pelo feridos que deixei no meio do caminho.
Não queria deixar vocês sozinhos.

É que amar menos significa amar mais.
Intensidade é a chave mestra dos corações.

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VI – Desenho

O Lobo irmão
O Chacal também.
O Amigo cristão.
A Paz e o Bem.

Rosas de Paracambi
Zorro de Jacarepaguá
Laços daqui ao Anhembí
Meu velho está no Pará.

Pequeno Príncipe no Duque.
Velho campeão na Vila da Princesa.
Olhos azuis no plugue.
Cadê meu escritor beleza?

Saudades do meu gato Cheshirè
Que descanse em paz.
Aos meus irmãos templários
Vamos fazer mais.

O Ébano é daqui do lado
Meu coração no Maracanã.
Carneiro está ajeitado
E o bicho no meio do maçã.

E eu aqui.
3 horas da manhã.
Com meu espírito
Pulsando
Alegre
Escapando pelos dedos

Sorrio.
Ponto final.
Existir além dos limites
É tudo afinal.