24 de julho de 2012

A leste de mim mesmo


I – A carta

Alguns dirão que a carta mais bonita é escrita pelo coração
Alguns dirão que a mais bonita será escrita com sangue
Alguns dirão que ela já foi escrita e está por aí
Outros dirão apenas que não.

A carta é um grito de saudade
De socorro, desespero, e amor
A carta é o urro de vontade, desejo, e torpor
A carta é cheia de pontos e verdade.

Lembro do envelope vermelho
Letras brilhosas, remetente distante
Destinatário menino fedelho
Alegre, bobo e um tanto inconstante.

E vieram outras, todas com sinceridade
Não foram muitas, é verdade
Mas não importa a quantidade que for
Não é por número que se mede amor.

Algumas existem. Outras não mais.
Umas leio quando dá vontade. Outras jamais.
Todas guardadas em seu canto de paz.

Se me recordo, vivo em dor imediata.
Fico sentado à espera da vinda dela.
Em aspiração de receber minha próxima carta.

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II – Anjos

As minhas preces não foram atendidas
Eu não consigo dormir
As minhas preces não foram atendidas
Eu continuo a existir.

Hipócrita em minhas vontades e letras
Sinto uma profunda dor no peito
Apenas ao pensar na morte
E no que pode acontecer após dela
Não aceito a escuridão
Não aceito deixar de viver.

Acredito que isso tudo não passa
De uma estado cognitivo insólito
Como um coma que a cada dia
Está mais próximo do seu fim
E quando acordarmos
Seremos quem quisermos
Enquanto pudermos.
Pois esse estado insólito voltará
Estaremos de volta nessa estrada
Em um sofrimento cíclico
Como uma verdade catatônica.

Os anjos não me protegem de mim mesmo
E me abandonaram por minha causa.
Eu briguei com um deles
Falei que iria abandoná-lo
Enquanto ele estiver obtendo prazer
Com outro homem sem ser a mim.

Aquele anjo que esteve ao meu lado
Por tantos anos
Com amor, carinho e sorriso
Anjo que chamei de melhor amigo
E com todas as forças do meu coração
Pude dizer que amei e ainda amo.

Anjo que eu rebaixei, debochei e abandonei
Anjo que me colocou debaixo das asas
Sem saber que eu não acreditava em nada
Nem em seu Deus, nem em mim
Apenas no amor que eu sentia ser verdadeiro.

Volta, meu anjo.
Pois eu já não sei onde eu estou.
E não sei se é tarde demais para eu voar
E voltar a te ter ao meu lado.

Volta, meu anjo.
Pois eu não sei mas quem eu sou
E não quero deixar de saber
Quem você é.
Pois quem ama cuida.
E quero você ao meu lado de novo.

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III – Sinfonia 5

Corre aos infernos com os ventos mais gélidos em suas costas
Corre para os corações demoníacos que irão te proteger
Ouça a flauta de medo que se aproxima
E baile aos violinos feitos de sonhadores.

Pare e respire, não esqueça que o trem já passou
É você e seu futuro e nada além disso
A realidade é apenas sua
Não deixe que ninguém diga que você não pode
Você sabe que não pode, prove a si mesmo isso.

A questão nunca foi de poder ou não
E sim de até quando a corda vai te segurar
E até quando o penhasco será penhasco
Solte a corda, seus pés encontrarão o chão
Acredite.

Os guerreiros desfilam com suas armas
E você é apenas mais uma sonhadora
E o medo te apavora. Mas não deixe.
O campo está cheio de flores.
Cheio de sangue e corpos deitados.

E esse silêncio é tão bonito.
É como se fosse o dia mais bonito de primavera
E só você pode viver esse sonho
Pois ele é seu.

Deite. Ouça. Tema. Sorria.
Cante aquela canção.
E agora corra.
Pois o fim está próximo.
E de final feliz nós já estamos cheios.

Os finais estão além de algo chamado felicidade.
Finais são linhas de limite.
Pense.
Não pare jamais.

E corra. Pois o túnel está distante de terminar.
Quando enxergar a luz.
Não admire.
Deixe seu corpo ser consumido.
E o fim ficará cada vez mais próximo.

Vença.
Quem?
Você mesmo.
Você
Eu
Deus
E quem você quiser.

Quem é você?
Você é quem?
Seja quem você quiser.

E não se esqueça.
É tudo um sonho.

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IV – Mais é menos

Deixo minhas antigas paixões de lado
Pessoas que estiveram abraçadas comigo
Existências que posso dizer que amei
E tudo isso valeu tanto a pena.

Mas hoje acabou.
Viraram sombras de um passado
Que só reencontro em memórias
Que tentam me magoar, mas não
Pessoas vem e vão.
Sementes e flores.

Eu plantei coisas boas
Colhi amores valiosos
Mas nada é para sempre
Até porque o nada não existe.

A verdade é que vou me despedindo
De antigas amizades
Estou cansado de ouvir tanto
De produzir tanta paixão e calor
E vontade de acolher as pessoas.

A fábrica de mim mesmo está fechando as portas
Mas só pra essas pessoas que já foram
Ainda sou o mesmo
O romântico utópico
Que gosta de cuidar seus amigos
E gosta de saber o que eles fizeram
As novidades, decepções e amores
Ambições, volições e temores.

Ainda sou o mesmo.
Só que mais reservado.
De escudo quebrado.
De cabelos a esmo.

Dou minha mão agora para poucos.
Joguei fora aquilo que me incomodava.
Amo mais.
Amo menos.
Pessoas.
Pessoas.

É só a existência que compartilhamos.
E se tenho uma missão
Espero que seja a de ajudar alguém.
Ouvir quando ninguém mais ouve.
Falar o que ninguém ousa falar.

E se é assim, eu fico feliz.
Sou fruto de minhas vontades.
E nada pode ser ruim enquanto
Eu escolher que será assim.

Agora eu escolho
Com coração
De propósito
E com gosto.

Se faz sentido ou não
Eu vou descobrir.
Sinto pelo feridos que deixei no meio do caminho.
Não queria deixar vocês sozinhos.

É que amar menos significa amar mais.
Intensidade é a chave mestra dos corações.

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VI – Desenho

O Lobo irmão
O Chacal também.
O Amigo cristão.
A Paz e o Bem.

Rosas de Paracambi
Zorro de Jacarepaguá
Laços daqui ao Anhembí
Meu velho está no Pará.

Pequeno Príncipe no Duque.
Velho campeão na Vila da Princesa.
Olhos azuis no plugue.
Cadê meu escritor beleza?

Saudades do meu gato Cheshirè
Que descanse em paz.
Aos meus irmãos templários
Vamos fazer mais.

O Ébano é daqui do lado
Meu coração no Maracanã.
Carneiro está ajeitado
E o bicho no meio do maçã.

E eu aqui.
3 horas da manhã.
Com meu espírito
Pulsando
Alegre
Escapando pelos dedos

Sorrio.
Ponto final.
Existir além dos limites
É tudo afinal.



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