31 de março de 2011

Memórias desfiguradas de amor e algo mais


I

Em minha mente vejo o passado
E tudo que está à minha frente
Se torna fosco, turvo, inexistente.
Sou eu voltando para aqueles momentos
Sentindo aqueles instantes
Mesmo que meu corpo esteja no mesmo lugar.

Eu ouço aquela canção
De quando eu era menino apaixonado
Repito seus versos.
Vejo perfeitamente todas as imagens.
Sala escura. Monitor ligado.
Um menino apaixonado.
Escrevia palavras bobas.
Enquanto ouvia a música
Desejando que ela se tornasse real.

Enxergo tudo com tanta clareza
Que chego a me assustar
Me seguro no que sinto ser real
E volto a viajar por aquela dimensão
Envolta de certezas e confusão
Caminhar no passado é como se deitar
Em uma cama de pregos querendo descansar.
Até serve. É funcional. Só que machuca.
Até serve. É até legal. Só que exige demais.

Sinto tudo aquilo como sentia.
Sinto por todos os cantos do meu ser.
Minha alma implode de fortes sensações.
Aquilo tudo que passou
Era como se fosse agora e aqui.
Aqui dentro de mim.
Um rio de tantas cóleras.

Mas não preciso voltar ao passado
Para saber que não quero repetí-lo.
É apenas uma experiência ocasional.
Uma coincidência estranha sentimental.
Ouvir aquela música não me deixa triste.
Eu sequer lembro-me dela.

Eu lembro do garoto.
Com o desejo em seus olhos.
A paixão no seu coração.
E a pureza de quem queria amar.

Eu lembro do garoto.
Encantado com a vida
Jornada inconcluída
Que prometia amor lhe dar.

Me olho no reflexo do vidro.
Faço uma leve saudação para mim mesmo.
Vejo que aquilo já passou.
O menino... homem se transformou.

Mas não perdeu o desejo no seu olhar.
Desejo de se transformar.
No poeta que vai escrever.
Desabafar, sorrir e aconselhar.
Dizer as coisas que você precisa.
Trocar os móveis de lugar.
Arrumar sua alma, fazê-la mais bonita.

De certa forma, é no presente que quero estar.

III

Era tudo um sonho.
Acordei.
Já passou.
O sonho é a própria vida.
Não podemos desistir dele.

Seguir em frente.
Olhar pra frente.
Vencer com o tempo.
Ser o próprio vento.
Intensificar os atos.
Ser fogo inexato.

Guarde os versos primordiais
Nós podemos tudo que queremos
E tudo vai ser como queremos.
No final, encontraremos o pote de paz.

II

Diga obrigado.
Peça perdão.
Não insista no erro.
Se errar
Inicie com a questão?
Onde errei?
E faça afirmação
Agora irei acertar!

Ame....
Como nunca...
Para sempre...
Sem pensar...

Depois do silêncio


I - Versos ventania.

Volto, paro e penso. Deixo a água cair sobre meu corpo. Crio frases. Formo versos. Rimo em estrofes. Deixo pra lá, junto com a água que vai para o ralo. À todo momento versos sobrevoam o meu ser, batem em mim e depois voltam a voar. Sorrio. Agradeço. E volto a caminhar. A poesia joga uma pedra em minha janela. Vai amigo. Volta. Volta pro teu ofício. Volta pro teu dever. Fecho os olhos e deixo correr. Vou dormir, é o melhor a fazer. Nada demais. O silêncio do bom. O choro continuar a ecoar. Choro de partes longícuas. Choros imprecisos. Lágrimas que si misturam com as lágrimas do mundo. Coisas que nunca terei condições de medir. É pouco. É tudo. Tudo tão confuso. Os dias parecem tão longos. Os anos são tão curtos.

Tudo isso já passou e quando olho pra trás, sei que se tentarmos, podemos melhorar. É triste. E ao mesmo tempo engraçado. Uma mentira construída vale mais do que uma verdade simplória. E onde está a honra? Não dá pra me orgulhar de minhas palavras. Não representam nada. Como cada ponto final que o destino decide colocar à cada instante. Nas pessoas, nas lembranças e em algo que não sei explicar. É mais fácil ser do que ter esperança. É mais fácil ser a esperança de alguém do que fazê-la ter esperança em algo que não se pode alcançar. É mais fácil fugir e não se misturar. Quase tudo que dizem que é mais fácil se torna mais difícil, por acharmos que é fácil. Não preciso mais falar, deixo que o vazio fale por mim, por isso voltarei a me calar.


II - Perdão.


Deitei-me a noite.

Não compreendi o ato.

Não entendo o insensato.

Me afasto do ingrato.

Tentei até cochilar.


Deitei-me a noite.

Mas estava agitado.

Vira a cabeça toda hora para um lado.

Não conseguia nem sonhar.


Deitei-me a noite.

Mas já era quase dia.

Nesses dias qualquer dia.

Hora cheia, alma vazia.

Queria mesmo é me mudar.


Deitei-me a noite.

Sonhei com flores e união.

Mas era tudo ilusão.

Acordei em guerra, febre e explosão.

O estrondo me fez acordar.


Levantei calado.

Talvez um pouco angustiado.

Amo tanto, tempo pouco.

Se te magoei, me perdoe.

E o tempo...

O tempo não sei voltar.


III - O pedinte.

Pediram-me um conselho. Eu disse que não poderia dar. Não sou o conselheiro perfeito. É a vida. Você não deve buscar conselhos pelo mundo. O conselho irá te achar.

Pediram-me uma poesia. Eu disse não iria adiantar. Não seria eu que escreveria a poesia para essa pessoa. A poesia estava sendo escrita, uma hora ela iria chegar.

Pediram-me amor. Eu disse que amor, naquele momento, eu não seria a pessoa certa para oferecer. O melhor modo de procurar o amor e fazendo-se não procurar. Quando for a hora certa, ele surgirá.

Pediram-me qualquer coisa com carinho. Qualquer coisa. E qualquer coisa com carinho eu poderia dar. Se for com carinho, e eu for o escolhido para te dar, eu darei. E não precisa me pagar.

Sou apenas um meio. Que não tenho nada definido para dar. Mas aquilo que me pedires, se for a minha missão, eu vou tentar.



1 de março de 2011

Pedaço & Furacão


.Entrego ao mundo esse pedaço de muita pouca coisa. Palavras sem sentido que eu espero que façam algum sentido pra alguém que procura um sentido e não consegue achar. Instrumento letal. Arma instigante. Vocábulos tocantes. Ou simplesmete nada. Eu não ligo quem vai ler, se vão ler, quando vão ler. O que me importa é tocar. Machucar. Curar. Ser a brisa. A ventania. O furacão.

.O furacão da vida incondicional. O furacão desesperado, corre pra todo lado, alcança a criança, joga ela no ar. A criança pensa que é herói. Ela está voando e esqueceu como chorar. Heróis não choram. Só os humanos. Pedaços de estremecimento corpóreo cintilante. Um suspiro, um movimento e a lágrima. Nem sempre de dor. Quase sempre sobre amor. Partido. Não correspondido. Indefinido. Mais-do-que-definido-porém-desordenado. Confuso. Distinto. Diferente. Amor entre a gente e não conseguimos compreender, a insurreição de nosso âmago que nos faz chorar. Criamos um lago emocional. Profundo e lacrimal. Furacão delirante. Sem início. Sem final.

.Aquele que chora na frente do espelho, sofre em dobro. Morre em dobro. Ao sentir seu sofrer e ao ver outro sofrer. Não adianta chorar? É claro que adianta. A gota quando cai no chão, provoca um terremoto no destino, evapora e nos faz ser nossa nuvem, passeando pelo céu de nossa existência. A existência que clama por existir. A existência que grita, desafina, desafia, afia, fala e sorri. Não é sempre como queremos. Mas podemos fazer nosso melhor. Se fosse fácil, seria menos prazeroso. Mas é tão difícil que chega ser doloroso. Paradoxo constante. Disputa eterna, até o último suspiro.

.Fugir e levantar de um abismo construído por nossos medos. Enfrentar as forças internas que sequer percebemos que existem. Voar como uma criança em um furacão. Vencer algo imaterial. Ser sua própria pedra fundamental. Criar sentido onde não tem. Longos passos, jornada, caminho, vida. Longos passos. Nada de deixar a vida mandar. A corrente é para ser quebrada. Mutilada. Espalhada pelo chão-de-todo-dia. A bolha precisa ser rompida. Aceitar não é o suficiente. Amar também não. É preciso ser antes de existir. Ser além de existir. Ser e nunca ‘dexistir’.

.O abismo me chama e eu grito lá do fundo, que não existe nada no mundo além da realidade que produzo. E eu quero que ela seja o melhor. Para todos. Mas eu não posso. É conflitante. Segmentos paralelos infinitos que viram perpendiculares, se unem e se transformam em um só.

.A minha vida é sua. Estarei aqui sempre que precisar. E quando eu deixar de existir, minhas palavras estarão aqui para ajudar. Assinado: A brisa que um dia se transformará em furacão.

Letras & Cinzas




Virei meu rosto
Como se a luz tivesse
Machucando meus olhos.
Li pela última vez
Aquelas lindas palavras
Porém, admito...
Que sequer prestei atenção.

Fiz por respeito.
Alguma forma de amor oculta.
Fechei aquilo tudo
E fui embora.

Vi as palavras mais importantes
Montei um quebra-cabeça sem sentido
Expressões misturadas sem nexo
Frases amontoadas confusas.
O sentido não era mais tão importate.
Fechei aquilo tudo
E fui embora.

A letra era suave.
Uma caligrafia que me agradava.
Palavras de esperança.
Palavras hoje que não significam nada.
Palavras vazias.
Perdidas. Perdidas. Perdidas.
E quando foram achadas
Fechei aquilo tudo
E fui embora.

Melhor assim. Melhor ignorar.
Melhor deixar queimar.
Deixar o destino consumir
Aquilo que existiu e não existe mais.

Letras que formavam palavras.
Palavras que formavam frases.
Frases que formavam ações.
Ações abandonadas ao esmo.
Esmo formado por dor.
Dor que virou compreensão.
Compreensão que se tornou pensamento.
Pensamento que pensa em não pensar.
Pensamento que é questionamento.
Questão é não pensar em questionar.

Não chorei. Não sorri.
Apenas abaixei a cabeça;
Fechei aquilo tudo e fui embora
Enquanto letras viravam cinzas
E o sentimento virava alma.
Viva. E morta ao mesmo tempo.