I - Versos ventania.
Volto, paro e penso. Deixo a água cair sobre meu corpo. Crio frases. Formo versos. Rimo em estrofes. Deixo pra lá, junto com a água que vai para o ralo. À todo momento versos sobrevoam o meu ser, batem em mim e depois voltam a voar. Sorrio. Agradeço. E volto a caminhar. A poesia joga uma pedra em minha janela. Vai amigo. Volta. Volta pro teu ofício. Volta pro teu dever. Fecho os olhos e deixo correr. Vou dormir, é o melhor a fazer. Nada demais. O silêncio do bom. O choro continuar a ecoar. Choro de partes longícuas. Choros imprecisos. Lágrimas que si misturam com as lágrimas do mundo. Coisas que nunca terei condições de medir. É pouco. É tudo. Tudo tão confuso. Os dias parecem tão longos. Os anos são tão curtos.
Tudo isso já passou e quando olho pra trás, sei que se tentarmos, podemos melhorar. É triste. E ao mesmo tempo engraçado. Uma mentira construída vale mais do que uma verdade simplória. E onde está a honra? Não dá pra me orgulhar de minhas palavras. Não representam nada. Como cada ponto final que o destino decide colocar à cada instante. Nas pessoas, nas lembranças e em algo que não sei explicar. É mais fácil ser do que ter esperança. É mais fácil ser a esperança de alguém do que fazê-la ter esperança em algo que não se pode alcançar. É mais fácil fugir e não se misturar. Quase tudo que dizem que é mais fácil se torna mais difícil, por acharmos que é fácil. Não preciso mais falar, deixo que o vazio fale por mim, por isso voltarei a me calar.
II - Perdão.
Deitei-me a noite.
Não compreendi o ato.
Não entendo o insensato.
Me afasto do ingrato.
Tentei até cochilar.
Deitei-me a noite.
Mas estava agitado.
Vira a cabeça toda hora para um lado.
Não conseguia nem sonhar.
Deitei-me a noite.
Mas já era quase dia.
Nesses dias qualquer dia.
Hora cheia, alma vazia.
Queria mesmo é me mudar.
Deitei-me a noite.
Sonhei com flores e união.
Mas era tudo ilusão.
Acordei em guerra, febre e explosão.
O estrondo me fez acordar.
Levantei calado.
Talvez um pouco angustiado.
Amo tanto, tempo pouco.
Se te magoei, me perdoe.
E o tempo...
O tempo não sei voltar.
III - O pedinte.
Pediram-me um conselho. Eu disse que não poderia dar. Não sou o conselheiro perfeito. É a vida. Você não deve buscar conselhos pelo mundo. O conselho irá te achar.
Pediram-me uma poesia. Eu disse não iria adiantar. Não seria eu que escreveria a poesia para essa pessoa. A poesia estava sendo escrita, uma hora ela iria chegar.
Pediram-me amor. Eu disse que amor, naquele momento, eu não seria a pessoa certa para oferecer. O melhor modo de procurar o amor e fazendo-se não procurar. Quando for a hora certa, ele surgirá.
Pediram-me qualquer coisa com carinho. Qualquer coisa. E qualquer coisa com carinho eu poderia dar. Se for com carinho, e eu for o escolhido para te dar, eu darei. E não precisa me pagar.
Sou apenas um meio. Que não tenho nada definido para dar. Mas aquilo que me pedires, se for a minha missão, eu vou tentar.
Todo mundo é realmente o meio para alguma mudança, alguma coisa prática a ser feita no mundo - na vida de outras pessoas.
ResponderExcluirLindo textos.
Algumas palavras são mais ativas que ações.
E a poesia está direta, de um jeito simples maravilhoso. :*