21 de fevereiro de 2011

Vida Louca Vida


I - Colher de samba

Não me venha com histórias
De deixa disso
Pára com isso
É isso e aquilo
Caiu no abismo
E não sabe como voltar

Não me venha contar seus achismos
Seus 'esquisitismos'
E de tão medíocres
Que me levantei pra vomitar

Você sabe que eu não me importo
Faz pra provocar
E eu curto a noite inteira
Não paro de sambar

Não me venha com histórias
De deixa disso
Pára com isso
É isso e aquilo
Caiu no abismo
E não sabe como voltar

Você escorregou e lhe dei a mão
Agora eu já saí
Corri pra rua dos amigos
E daqui não vou fugir

Brincadeira e provocações
São boas para crianças
E se queres entrar na dança
O primeiro passo é sorrir

Não me venha com histórias
De deixa disso
Pára com isso
É isso e aquilo
Caiu no abismo
E não sabe como voltar

Se não sabe como voltar
Eu posso até dizer
Mas pela ajuda vai pagar
O preço não sei dizer.

II - Faz história

Vai lá e depois me conta
Fica tranquilo, se apronta
A noite vai começar.

Esquece do teu passado
Que já está intercalado
Com um lugar de não voltar.

Beija-me como sempre
Com aquele gosto de nunca...
...vamos nos separar

Estava pensando aqui
Estava tentando pensar
Estava querendo passar
Um jeito de ter que pensar

Não importa se teremos artigos
Escreveremos livros
Seremos reconhecidos quando passar
A questão é fazer história
Marcar uma vitória
No coração daqueles que amar.

E é isso que importa.
O livro da vida é escrito cada dia.
Não deixe a página rasgar.

III - Ignora!

Ignora o que te machuca, menino.
Isso vai passar. (Eu sei que vai)
Ignora a tua história, menino.
O futuro já vai chegar. (E já chegou, menino)
Deita na sua cama.
Faça sua oração.
Deita na sua cama.
Reze com coração.
Deita na sua cama.
Na calma, na alma, no universo.
Esquece.
Você não fez nada errado.
Você não foi criado
Pra chorar em noite de luar.
Dorme agora.
Acorda cedo pra depois brincar.
Fica no sossego que tudo passa.
Na certeza que vai melhorar.
Sempre melhora.
Nenhuma tempestade dura pra sempre.
O sol volta a brilhar.
Dorme agora.
Pra depois brincar.
Ignora o monstro do armário.
Banque o herói.
Ignore aquilo que dói.
Faça da sua vida
O que desejar.

IV - Sorria...

Vem, querida.
Sorria.
Não tem motivo pra ficar
Assim. Assim. Sim sim.
Acalma-te que já passou.
O vento.
O vento do terror.
É vida nova.
Acabou.
Pode abrir a porta.
O que está do outro lado
É melhor.
Se deu errado
É porque depois
Vai dar certo.
Se levou seu amor
É porque vai trazer
Um melhor.

E se não vier,
Pode me cobrar.

V - O primeiro beijo.

Ele estava nervoso. Ela estava de listrado rosa e amarelo. Era mais uma cena cotidiana assistidas pelas câmeras de um shopping em uma tarde qualquer. Conversando sentados como se fossem apenas amigos. E o olhar do menino mostrava a ansiedade. O medo. A insegurança. Tudo aquilo que fora construído em sua carcaça tempestuosa ao longo do tempo. Passou. Deu certo. O menino mudou. Cresceu. Virou homem. Acho que até tem barba. Era bobo, não dizia "eu te amo". Agora diz. Convicto. Categórico. Amando. E como ama. E não quer parar de amar. E daquele 22 de fevereiro não esquecerá. Nunca conseguirá. Sabe como é importante aquela data. Reconhece que nenhuma grande jornada é dada sem se dar o primeiro passo. E aquele passo foi essencial. Faz parte. É parte dele. E sempre fará. No presente, no passado e naquilo que ele temia, mas como ela não teme mais. O futuro. Oh, futuro. Estou a chegar a ti. Só que agora acompanhado. Será capaz de me levar?

...

9 de fevereiro de 2011

Existe um poeta em algum lugar do mundo


V - A volta do tempo

O tempo passa e volto a repetir
Nossas ações modificam tanto o passado
Quanto o nosso futuro.
Isso é tão forte que eu já me questiono
Enquanto escrevo, se essa poesia
Repercutirá mais no seu passado
Ou no seu futuro,
Caro leitor.

Eu não tenho idéia do que acontecerá depois
Se nós seremos felizes
Se conseguiremos o que queremos
Se obteremos respostas pra nossas perguntas
Mas que perguntas?
Por que elas são tão importantes?
A verdadeira importância da vida
É não definir as coisas como mais importantes do que as outras.
Importante é apenas viver.
E isso pode não ser muito importante.

O que aconteceu em nosso passado
Está em plena mudança.
Nossas memórias mais fortes estão sendo esquecidas
E mais fracas vem à tona quando menos espera.
O passado se transforma no futuro
E não conseguimos acompanhar
Ficamos presos no presente
Presos na presença de nós mesmo
Caminhando de olhos fechados no escuro.
Faz alguma diferença abrir os olhos já que estamos no escuro?

Compreendo que existimos.
Compreendo que insistimos.
Compreendo que nascemos e morremos.
Mas não compreendo as guerras.
E acho que nunca vou compreender.
Nem no passado. Nem no futuro.


Quando atacamos o próximo
Somos ferido com o maior dos males
A maldade intrínseca.

Quando falo de guerras.
Falo de todas as guerras.
As pessoais e as mundiais.
A guerra da ambição.
A guerra por estupidez.
Toda guerra é estúpida.
Toda guerra é ambiciosa.

E nós? Somos seres que procuramos a paz
Em um eterno mundo em guerra.

VI - 11 meses

Quem diria, amor?
Quem diria?
E já se foram 11 meses.

E eu não consigo fugir do clichê
Da necessidade magna
De respirar e quando te ver
Dizer que te amo.

Chega a ser bobo,
Chega a ser infantil.
Mas o que me trouxe
Foi mais que um presente
Foi mais do que sensações
Foi mais do que carinho.

Eu não sei explicar
E admitir essa incapacidade
É admitir minha fraqueza
Mas os amores conhecem nossas fraquezas

E a minha é você.
Que me deixou apaixonado.
Que me deixa apaixonado.
Só me faz querer estar ao seu lado.
E quando estou triste
Só me faço pensar em você.

Pois quando penso em você
Eu vejo mais além
Pois quando penso em você
Eu sou mais alguém
Pois quando penso em você
Sou amante, herói e escritor
Pois quando penso em você
Só me vem a palavra amor.

VII - Boa noite

Boa noite.
Boa noite,
Boa noite!

Apaga a luz.
Vamos dormir.
Eternamente.
Como se o sol
Não fosse nascer
Amanhã.

5 de fevereiro de 2011

O gato que morreu ouvindo Pink Floyd

I

Era dor, era descanso, era sofrimento, mais um momento.
Ele estava deitado e quando eu chegara
Nem tinha percebido que estava ali.
Por ironia da vida ele morreu ouvindo "Dogs".
Essa reflexão veio depois. Quando aconteceu
Só tive tempo de ficar parado sem entender.
A morte. A sorte. O ainda existir.

Não foi algo simples de presenciar
Não que tivéssemos ligação aparente.
Ele só estava naquele local. E eu também.
Isso pode ser considerado uma ligação?

A vida se extinguiu. E não foi a minha.
Eu continuei. Isso já era o suficiente.
O inacreditável? Seu último suspiro.
Em um galpão abafado perto do inferno
Todos sentem calor, todos sentem a dor
Daquele lugar empesteado de almas.

Ele não queria comer, não queria água ou leite.
Não queria saber se o que rodeava era almas ou gente.
Não importar viver, morrer ou tentar distinguir.
Não tinha graça levantar, sofrer e existir.

Sem saber, passei ao lado daquele gato
Ele levantou a cabeça, como reverencia.
Ou foi uma espécie de reação espontânea?
Um susto com a minha presença? Não sei dizer.
De certo ele me olhou. Eu tentei ignorar e não consegui.
Naquele momento, o universo estava entre nós.
Era só um gato e um humano.
Um gato mais humano que eu.
Um humano que sofria tanto quanto o gato.

Ele abaixou a cabeça de forma inexata.
Talvez aquela tivesse sido sua última olhada.
E o que me machuca é que sua última lembrança sou eu.
Não que eu seja ruim ou algo parecido.
Mas ele merecia algo melhor, meus olhos não eram puros
Mas de alguma forma inexplicável, aquilo tudo me tocou.
Aquele momento me purificou
Aquela morte me amaldiçoou
Mesmo que essa palavra pareça terrível.

Não fiz parte do seu adeus corpóreo depois.
Evitei olhá-lo. Evitei tocá-lo.
Já tínhamos nos olhado.
Já tínhamos nos tocado.
E foi muito mais forte que algum toque físico.

Aquele gato está nos meus olhos.
Aquela dor em meu ser.
Eu sou ele e sempre quis ser.
Deitar em um canto de escombro de guerra
Morrer de forma justa e honrosa.
Olhar para um humano e lhe dar esperança.
Fé na sua vida, mesmo que a minha tenha que se extinguir.
Trazer a paz para uma alma, mesmo que tenha que sair do corpo.
Olhar, suspirar e abaixar a cabeça.
Apoiar apenas pelo bem. Querer o bem. Fazer o bem.

Não tento muito entender os motivos.
Ele apenas estava ali. E eu também.
Aquela era a maior ligação que poderia pedir.
De alguma forma ele deu a vida pra me fazer refletir.
E eu fiz parte do seu último suspiro.
Seus últimos momentos nesse inferno.

O universo que produzimos consumiu toda dor
Produziu um vazio inesperado.
Uma mágica sensação
De que nunca entenderemos o que somos
Como somos e qual é a razão de sermos?
A mágica sensação de que não somos os maiores
Melhores, mais poderosos e fortes.
É tudo uma questão de ser.
E quando somos, podemos escolher caminhos.
Quando o gato me olhou, ele pareceu-me dizer
Escolha o do amor.


II

- O que é a realidade?
- Realidade é a realidade física.
- Então a realidade existe.
- Não.
- Então a realidade é.
- Não.
- Então, o que é a realidade?
- É a realidade física, segundo Einstein.
- E as outras realidades? E as realidades que eu produzo, que você produz, que nós produzimos. A realidade é o que pensamos.
- Não. Existe a realidade física?
- Mas a minha realidade é diferente da sua.
- Quando você deixa de existir, a realidade desaparece?
- Sim... Não. Não sei. A minha realidade desaparece. Mas a realidade do mundo não.
- Exato. A realidade física.
- Mas o mundo é o que eu penso que ele é. A realidade somos nós que fazemos.
- Não. Esse é o destino.
- Esse também fazemos.

III

- Sua realidade é diferente da minha. Você vê coisas que eu não vejo, você ouve coisas que eu não ouço, você sente coisas que eu não sinto. Eu não sei de nada.
- Você sabe. Todos sabem.
- Eu sei que todos estamos loucos e eu não consigo mais distinguir a diferença do que é real ou não.

1 de fevereiro de 2011

A Bomba Relógio


I

O tic-tac dessa bomba nervosa, estrondosa, poderosa, romântica, semântica, infindável, palpável, invisível, irreconhecível, indestrutível, que inflama, que chama, esparrama por aí. Nada como o não entender o que se passa. Se é que se passa. E o bater cada vez mais rápido de um toque tão humano. Tudo tão indefinido. Não é possível mexer. Um passo errado e explode. Um movimento errado e BUM! A todo instante ela explode, mas não deixa-se expandir. Ela não sabe pra onde vai. Pequena e maravilhosa. Com poder de destruir impreciso. Até precioso. O som de seu respirar incomoda. O som do respirar alheio a incomoda. Entoca-se em seu próprio peito. Cria um mundo sem nenhum defeito. Seu maior defeito é existir. E quando existe, pensa. E quando pensa, ama. E quando ama, sofre. Mas sofre sem saber a hora de explodir. Sofre por explodir sem saber a hora. Explode de hora em hora, mas não machuca ninguém, é só uma bomba relógio.

II

Evacuaram o prédio. Deixaram todos que ali estavam. Homens, mulheres e anjos. Os demônios estão de pé para assistir e torcer contra aqueles homens com roupas pesadas. Alguém foi deixado no meio do caminho, sempre é. Sempre esquecemos de alguém. Às vezes, se esquecem de nós. E tudo está para acontecer. E o caminho da vida está pronto para ser mudado. Nas escadarias da vida, no corredor do destino, no quarto confuso da existência. Estamos parados. O prédio do ser foi evacuado e a bomba prestes a explodir. Onde está você quando mais preciso? Lembrei. Aqui, dentro de mim. E isso é o que importa. Pode explodir, eu tenho a você e vou sobreviver.


III

Cai um copo da mesa e ninguém se assusta. Todos voltam a comer como se nada tivesse acontecido, menos ela. Ela nem queria comer. Estava triste, de alguma forma. Estava apaixonada, daquela forma. E fome era o que menos sentia. Aperto no coração? Sim. Ansiedades estranhas a todo momento? É, isso mesmo. Saudade, mesmo nunca estando com ele? Por mais estranho que pareça, é exatamente isso. O pavil da bomba começa a queimar e não parece muito longo. Um coração apaixonado não sabe esperar. Nunca sabe. Apenas queima. Queima de paixão. Sofre a cada segundo. Como uma bomba relógio pronta pra explodir.

IV

A bomba que ama é meu coração.
A bomba que chama é minha paixão.
A chama que queima clama por ti.
Eu sou a bomba, não quero explodir.

Venha para mim, traga me paz
Faça comigo o que ninguém faz
Retira-me do peito toda essa dor
Traga essa bomba um pouco de amor.

V

Tic.
Tac.
Tic.
Tac
...